Se, contudo, olharmos quem somos através do miradouro de outras áreas culturais, verificaremos que, afinal, somos nós os bárbaros. Um Michel Aflak (1910-1988), o sírio cristão, fundador do partido Baas, considerava os ocidentais colonizadores e fanáticos, enquanto o nacionalismo árabe seria de carácter espiritual, colocando o amor acima de tudo, por trazer uma mensagem eterna, universal e humanista destinada a mudar a civilização, que teria entrado em decadência. Um Mahatma Gandhi (1869-1948) assumia-se também contra a civilização ocidental contemporânea, porque nesta dominariam o corpo e a sensualidade e porque o Estado representaria a violência de forma concentrada, usando uma linguagem de comando e de uniformidade. Assim, propunha um modelo de Estado não violento, assente em pequenas comunidades rurais, auto geridas e auto-suficientes. O poeta e filósofo indiano Rabindranath Tagore (1861-1941), Prémio Nobel da literatura em 1913, criticava, por seu lado, a ideia ocidental de política, considerando-a demoníaca, porque a adoração do demónio da política sacrifica todos os outros países como vítimas. Nutre-se e engorda com a sua carne morta, enquanto as carcaças estão frescas. Refere que a nação é o aspecto de um povo como potência organizada e, assim, o homem desembaraça-se do apelo da consciência quando pode transferir a responsabilidade para essa máquina que é a criação da sua inteligência e não da sua completa personalidade moral. Por este meio, povos que amam a liberdade perpetuam a escravatura com o orgulho confortável de terem cumprido o seu dever. Porque a Nação é o interesse egoísta e organizado de um povo no que ele tem de menos humano e espiritual. Desta forma, o espírito de conflito e de conquista está na origem e no centro do nacionalismo ocidental, sendo a nação um aparelho de tirania e voracidade.
Samuel Huntington
in Curso de Relações Internacionais
José Adelino Maltez
Samuel Huntington
in Curso de Relações Internacionais
José Adelino Maltez
2 comentários:
Isto é complexo pá! Vou ter que voltar a ler isto. Hoje fiquei com uma ideia mas estou curioso para saber se uma segunda leitura permite o mesmo juízo.
De qualquer modo ocorreu-me, a propósito do último indivíduo referido no texto, que assim como o estado já foi feudal e passou a estado-nação, hoje já se diz que essa definição também já está ultrapassada e brevemente falar-se-á apenas em estado-empresa!
Urgggh!
Ao invés de bilhetes de identidade nacionais uniformizados vamos andar por aí com crachás exibindo o logotipo da multinacional a que somos fieis e quiçá de quem somos empregados!
Vassalagem ao universo simbólico do patrão!
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