sábado, 24 de janeiro de 2009

Penso diariamente na morte. Dependendo da altura, até tenho bastantes pesadelos. Isto acontece-me desde que soube que o coração parava de bater.
Comecei por adormecer a imaginar quem iria morrer primeiro. Imaginava-me à seca, presa num caixão, para toda a eternidade. Tinha contínuos pesadelos com a Preciosa e com a Emília. Geralmente era no aeroporto ou na estação de comboios. Iam-se embora e nunca mais as via. Chorava, quase que sufocava e acordava a chorar. Acho que sonhava com elas porque as sentia como família mas não eram. Não me deviam nada e a qualquer momento podiam partir. E eram importantes demais para eu não sofrer.

Não sei quando deixei de sonhar com isso.

Mas sonhava que quando alguém de quem gostasse muito muito morresse, eu não iria aguentar. Lembro-me que, quando via filmes ou telenovelas e havia um funeral, não percebia como a mulher ou o filho iam tão arranjados para o funeral. Achava que não iria ter força suficiente para isso. Nunca mais iria querer viver.

No dia em que o avô morreu, eu acho que me vesti. Mas sei que chorei até não aguentar mais. Sei que sofri até não ter forças. Mas quis viver. Pode parecer frieza, mas não penso muito no assunto. Não penso no avô como se não existisse. Tento não pensar na morte dele.
Mas às vezes sonho que ele está vivo. Aqui, ao pé de mim. Pergunto-me se ele tem orgulho em mim. Mas prefiro não pensar no assunto.

Com a Emília foi desesperante. Não estava à espera. Soube da mesma forma. Acordei com os berros.
Durante semanas não consegui dormir. Mas durante o dia nunca pensei no assunto. Ria-me às gargalhadas, porque era feliz.

Há pouco tempo voltei a ter pesadelos, como quando era pequenina.
Foi em Milão. Acordei e chorei desalmadamente porque a avó e a Preciosa morriam. Senti-me tão indefesa como antes. Sinto que quando acontecer não vou conseguir viver. Não vou ter forças para mais nada.

Penso constantemente na morte. E também na minha. Não tenho medo de morrer. Tenho medo do que acontecerá a seguir. Não acredito nem no céu nem no inferno. Mas não acredito que não aconteça nada. Imagino-me constantemente à seca, num caixão.

Confesso que quando fui operada estava nervosíssima com a anestesia. Quando me levaram para sala de operações, pensava no que seria a anestesia. Disseram-me que era como dormir, ia adormecer e não me ia lembrar de nada. Comecei a tremer, porque imaginei que era assim morrer.

2 comentários:

T disse...

Também a mim não me assusta morrer, o que me assusta é conceber a morte e aquilo que é perder pessoas que me dizem muito.

E nunca me imaginei num caixão à seca, mais num sítio escuro, sem cheiro, sem luz, sem ninguém: presa em mim, para sempre.

E sim, ainda hoje às vezes acordo arrepiada.

(escreves bem, sabes?)

Anónimo disse...

querida prima madalena, aprecio o modo simples e claro como expressas algo tão importante, sem falsos rodeios. escreves...de modo honesto, sincero e espontâneo. sem pretensiosismos.
gosto mesmo muito, do modo e do que contas de ti. tens gana!
orgulho de prima.
beijinhos
Joana