sexta-feira, 15 de maio de 2009

Sabe, no meu primeiro dia de escola, o professor mandou os rapazes porem-se todos em fila e irem até à sua secretária para que ele pudesse anotar os seus nomes no livro de matrícula. Quando eu lhe disse como me chamava, ele ficou a olhar para mim embasbacado.
- Munna? Mas isso não é nome de gente.
Ele tinha razão: significa simplesmente "rapaz".
- É só isso que me chamam, senhor professor - assegurei-lhe eu.
Era verdade. Nunca ninguém me tinha dado um nome.
- A tua mãe não te pôs um nome?
- Ela está muito doente, senhor professor. Passa os dias de cama, a cuspir sangue. Não tem tempo para me pôr um nome.
- E o teu pai?
- Ele é condutor de riquexó, senhor professor. Não tem tempo para me pôr um nome.
- Então e tu não tens uma avó? Tias? Tios?
- Eles também não têm tempo.
O professor deu meia-volta e cuspiu; um jacto de paan vermelha espalhada pelo chão da sala de aula. Humedeceu os lábios.
- Bom, então nesse caso, cabe-me a mim a tarefa, não é verdade? - Passou-me uma mão pelo cabelo e disse: - Vamos chamar-te... Ram. Espera... Não temos já um Ram nesta aula? Não quero dar azo a confusões. Serás Balram. Sabes quem era Balram, não sabes?
- Não, senhor professor, não sei.
- Era o amigo inseparável do deus Krishna. Sabes como é que eu me chamo?
- Não, senhor professor.
Ele riu-se. - Krishna.

Aravind Adiga, O Tigre Branco

3 comentários:

Dalaiama disse...

Que história tão sensível e gentil!
:):):)

Madalena Virtuoso disse...

o livro e todo espectacular :)

coelho_branco disse...

depois quero ver esse postzinho sobre a sicilia, bebe :D*